Múmia de 5 mil anos revela que mulher tinha papel extremamente importante em sociedade antiga
Arqueólogos anunciaram, nesta quinta-feira (8), a descoberta dos restos humanos de uma mulher no Peru, datada de há cerca de 5 mil anos, que teria pertencido à civilização Caral, a mais antiga da América. O achado levou um grupo de arqueólogos a compreender mais sobre o papel das mulheres da época entre o quarto e o segundo milênios a.C. na região oeste do país andino.
Arqueólogos anunciaram, nesta quinta-feira (8), a descoberta dos restos humanos de uma mulher no Peru, datada de há cerca de 5 mil anos, que teria pertencido à civilização Caral, a mais antiga da América. O achado levou um grupo de arqueólogos a compreender mais sobre o papel das mulheres da época entre o quarto e o segundo milênios a.C. na região oeste do país andino.
Esta descoberta é de particular interesse para os cientistas, uma vez que pode provar que as mulheres desempenharam um papel de liderança na civilização Caral, disse à imprensa David Palomino, chefe da equipe de investigadores.
O túmulo foi descoberto em dezembro na antiga aldeia Áspero, a cidade pesqueira da civilização Caral, que durante muito tempo foi local de depósito de lixo antes de ser classificada como sítio arqueológico.
Pequenos objetos, como um bico de tucano, uma tigela de pedra e uma cesta de palha, também foram encontrados com os restos humanos e foram exibidos na quinta-feira na sede do Ministério da Cultura em Lima.
Status importante dentro da sociedade
As primeiras análises indicam que estes restos humanos são os de uma mulher entre os 20 e os 35 anos, com 1,50 metro de altura e usando um cocar, uma indicação de seu alto status na sociedade da época. Além disso, o corpo estava envolto em várias camadas de tecidos e num "manto de penas de arara", original da Amazônia, como explica David Palomino.
Ruth Shady afirmou que encontrou penas de pássaros, tecidos de algodão, cestos e um trabalho artesanal meticuloso nesses objetos e em outros feitos para sepultamento. A arqueóloga disse não ter dúvida de que são obras de artesãos qualificados.
"Diante da descoberta, interpretamos que se tratava de uma personagem que havia recebido um status importante dentro da cidade de Áspero". Segundo Ruth, algumas tradições ainda são preservadas em grupos étnicos como os Shipibos da Amazônia.
De acordo com Shady, uma "série de características que indicavam que ela tinha grande importância na sociedade. Agora, encontramos os restos mortais de outra mulher na mesma área, cujo tratamento de sepultamento prova isso mais uma vez", revelou.
Civilização que se desenvolveu no território andino-amazônico
Os restos mortais da mulher foram encontrados no âmbito das escavações dirigidas pela arqueóloga peruana Ruth Shady, da Universidade Nacional de San Marcos, em Lima, na capital peruana. A estudiosa disse que atualmente trabalha na pesquisa de 12 centros urbanos da civilização Caral, na costa centro-norte do Peru. O objetivo é entender como essa civilização se formou e se desenvolveu ao longo de, pelo menos, mil anos de grande prestígio no território andino-amazônico.
Shady lembra que o trabalho começou em 1994 com estudantes universitários que faziam uma pesquisa na bacia do rio Supe. "Queríamos saber se havia apenas um centro urbano como Caral, que na época se chamava Chupacigarro, ou não. Dois anos mais tarde, em 1996, decidi começar a pesquisar na própria Zona Arqueológica de Caral. E continuamos ali até hoje", contou a arqueóloga, que lidera o grupo de pesquisadores que têm apoio financeiro da National Geographic.
A civilização Caral, que floresceu entre 3.000 e 1.800 a.C., é a mais antiga da América. Contemporânea das civilizações mesopotâmica e egípcia, ela surgiu em um planalto árido no Peru, 182 km ao norte de Lima, 45 séculos antes da civilização inca.
A arqueóloga da Universidade de San Marcos explicou que a cultura Caral era baseada em relacionamentos muito respeitosos, especialmente entre gêneros.
"Se uma mulher tinha direito a uma posição política, ela a recebia. É por isso que, quando os espanhóis chegaram, isso chamou a atenção deles. Foi reconhecido que a inteligência emocional era necessária, e a combinação desta com a inteligência cognitiva era algo que as mulheres possuíam", disse Ruth.
Papel das mulheres transmitido para outras sociedades
Para a arqueóloga, o papel das mulheres foi muito importante desde a civilização Caral, e esse conhecimento foi transmitido para outras sociedades em diferentes períodos.
Ruth Shady apontou que o interessante dessa descoberta são as relações interculturais entre o litoral, as montanhas e a floresta amazônica. "Nos centros urbanos, onde trabalhamos, não encontramos muros nem armas. Portanto, até agora interpretamos que a civilização Caral promoveu relações mutuamente benéficas com outros estados por meio do compartilhamento e não por meio de ações violentas ou militares", concluiu.
Era uma cultura que estava em harmonia com a natureza e, claro, com os seres humanos. "Eles compartilhavam uma grande diversidade de culturas e línguas que se desenvolveram em todas as partes da região que hoje é o país Peru. Isso é necessário para que nós reflitamos sobre como vivemos no passado, como estamos vivendo no presente e quais as mudanças que precisamos fazer para viver melhor no futuro", finalizou a arqueóloga Ruth Shady.
(com informações da AFP)