'Não sabemos quando o bug do milênio pode acontecer na computação quântica', diz especialista da IBM
Ana Paula Appel, que participa do Summit Tecnologia e Inovação do Estadão, explica a importância do planejamento para o futuro com máquinas quânticas
Na virada entre 1999 e 2000, um dos principais assuntos era o "bug do milênio", um erro nos computadores globais que seria o resultado da falta de compreensão das máquinas para 99 e 00 nos calendários. Para alívio de muitos, isso não ocorreu, mas, agora, há outro perigo no ar: o fim da criptografia em computadores clássicos, o que colocaria em perigo toda a segurança do mundo digital, incluindo transações financeiras e sistemas de infraestrutura.
O perigo cresce à medida que computadores quânticos são desenvolvidos. "A diferença é que o bug do milênio tinha dia e hora para acontecer, enquanto o mundo de criptografia pós-quântica pode ocorrer a qualquer hora", afirma Ana Paula Appel, especialista da IBM na área.
Quão longe ou perto estamos de ter computadores quânticos 100% funcionais e resolvendo esses grandes problemas do mundo?
O primeiro computador quântico da IBM foi lançado há nove anos, o que é um tempo muito curto na história da computação. Temos alguns problemas para resolver com essas máquinas para que se tornem produtivas, coisas que já foram resolvidos na computação clássica. Um grande problema é a correção e mitigação de erros, pois os computadores quânticos são extremamente ruidosos por trabalharem com partículas. A IBM aposta nos computadores de super condução por serem de propósito geral, conseguirem resolver uma gama maior de problemas, e pela crença de que essa tecnologia conseguirá escalar, ter qualidade e velocidade. O grande desafio hoje é como combinar diversos processadores quânticos sem aumentar o ruído, como transportar informação de um chip para outro e como conectar tudo. Ainda estamos nesses passos, mas há uma boa perspectiva em termos de roadmap e pesquisa. A IBM, por exemplo, promete que para 2029 conseguiremos resolver o problema e ter um computador com correção de erro.
Por que é importante estudar criptografia quântica agora? E qual o impacto que essas máquinas podem ter na segurança do mundo digital?
Quando houve o "bug do milênio", a gente sabia o dia e hora que isso ia acontecer perfeitamente. Na computação quântica a gente não sabe. Quando tivermos computadores quânticos em escala, eles vão quebrar a criptografia. O algoritmo RSA, uma das chaves principais, será quebrado. Existe um algoritmo quântico, publicado por Shor em 96, que rodará muito mais rápido em um computador quântico do que em um clássico e permitirá quebrar a criptografia em horas. O NIST, um órgão de segurança e padrões americanos, já definiu os novos algoritmos de criptografia. Esses novos algoritmos não são quânticos, são clássicos, mas resolvem um problema matemático diferente. A criptografia RSA usa a fatoração de números primos como base para a segurança, e o algoritmo de Shor consegue resolver esse problema rapidamente. O NIST já orientou que até 2030, preferencialmente até 2028, todas as empresas devem substituir seus algoritmos de criptografia pelos novos certificados. O desafio não é a computação quântica em si, nem os novos algoritmos (que já existem e são clássicos), mas sim a implementação. Pense em uma empresa com milhares de aplicações e código legado, onde encontrar e substituir essas chaves. Não basta apenas um banco trocar; com quem ele se comunica também precisa trocar. Por isso, falamos de uma jornada "quantum safe". Uma empresa pode não querer usar computação quântica, mas será impactada pela criptografia. Se quiser continuar operando e fazendo negócios, terá que trocar essas chaves.
O Summit Tecnologia e Inovação Estadão acontece no dia 14 de maio, das 8h30 às 16h, no Unibes Cultural, em São Paulo. Confira a programação completa e inscreva-se aqui.
