Lutadoras: mãe vende brigadeiro no trem para manter a filha no tatame em SP
Com 11 anos, garota de Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo, vem despontando no jiu-jitsu, mas os custos são altos
Enquanto transitam por lotações, trem e metrô para irem aos treinos, mãe vende brigadeiros e empadas, enquanto filha mostra suas medalhas, suas credenciais e fala dos planos de carreira. Lutadora tem títulos nacionais, sul-americano, europeu e um bronze mundial.
A palavra “lutar” tem significado amplo para a família Terrolis, de Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. De segunda a sexta, no trajeto feito em duas lotações, um trem e um metrô, a mãe Bruna leva a filha Pietra ao treino de jiu-jitsu, e no caminho vende brigadeiros e empadas para manter a atleta de 11 anos.
Pietra começou a treinar em 2023 no projeto social da Fiel Tiradentes. Rapidamente, começou a ganhar campeonatos estaduais, nacionais e sul-americanos. Foi campeã do Europeu Kids, em Portugal, e bronze em competição mundial, em Abu Dhabi, promovida pela Abu Dhabi Jiu Jitsu Pro (AJP).
Nas quatro horas que gastam no transporte, mãe e filha quase sempre conseguem vender as dez caixinhas de brigadeiro e as dez empadas. Custam R$ 10,00 cada e rendem R$ 200,00 por dia, bruto.
“No começo a gente vendia doce, bala, chiclete, pirulito. Um dia, do nada, a gente voltando no trem e a Pietra falou mãe, o que você acha da gente fazer brigadeiro? Fizemos, deu certo”, diz Bruna, também mãe de dois filhos mais novos que Pietra.
Entre lotações, trem e metrô, vendendo brigadeiros e empadas
Pietra se interessou por jiu-jitsu ao acompanhar o pai em um treino. Adorou. Com bolsa da Academia Gênesis, treina toda tarde, depois da escola. A mãe deixou as faxinas para acompanhar a filha no longo deslocamento.
“A gente pega uma lotação até a estação de Guaianases, do trem. Aí vai até o metrô Tatuapé. Faz baldeação, vai até a estação Engenheiro Goulart e pega outra lotação. Aí chega”, descreve Pietra.
“Se conseguir pegar um atrás do outro, leva uma hora e quarenta; se perder a lotação, demora umas duas horas”, diz a mãe, que faz as vendas durante o trajeto. A filha mostra medalhas e a plaquinha plastificada com informações e o QR Code para o Instagram.
Quanto custa o corre esportivo de Pietra
Para competir na Itália, no início deste ano, foram gastos R$ 12 mil só de passagem. “E eles cobram em euro”, lembra a mãe. Para Abu Dhabi, gastaram um pouco mais. A filha só pode viajar acompanhada, dobra as despesas.
A família faz vaquinha na internet. Os brigadeiros e empadas vendidos nestes dias pagarão a viagem para Los Angeles, em julho. É mais uma competição da International Brazilian Jiu-Jitsu Federation (IBJJF, uma das maiores federações da categoria, que não tem entidade mundial única.
O dinheiro das vendas “não tem sido suficiente”, diz a mãe. Seu marido, em silêncio até aquele momento, decide falar: “Parece que faz parte da cultura do Brasil não ligar para o esporte. Fala-se muito de segurança, educação, saúde, mas se nem essas áreas estão bem, o que dizer do esporte?”