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Trump 2, a 'revanche': especialistas analisam 'estratégia do caos' do presidente em 100 dias de governo

"Trump 2, a vingança final", poderia ser um título possível para um blockbuster de Hollywood retratando a escalada de tensões provocada por Donald Trump desde sua volta à Casa Branca, em 20 de janeiro. Mais agressivo e utilizando amplamente a "estratégia do caos" de seu ex-conselheiro Steve Banon - atirar forte e sem parar para não dar tempo de revide - o protagonista ainda encontra tempo para tentar atuar como mediador em conflitos, enquanto se diverte provocando mega potências comerciais.

30 abr 2025 - 15h41
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"Trump 2, a vingança final", poderia ser um título possível para um blockbuster de Hollywood retratando a escalada de tensões provocada por Donald Trump desde sua volta à Casa Branca, em 20 de janeiro. Mais agressivo e utilizando amplamente a "estratégia do caos" de seu ex-conselheiro Steve Banon - atirar forte e sem parar para não dar tempo de revide - o protagonista ainda encontra tempo para tentar atuar como mediador em conflitos, enquanto se diverte provocando mega potências comerciais.

Presidente Donald Trump conversa com jornalistas durante a cerimônia simbólica de posse de Paul Atkins como presidente da Comissão de Valores Mobiliários, no Salão Oval da Casa Branca, na terça-feira, 22 de abril de 2025, em Washington.
Presidente Donald Trump conversa com jornalistas durante a cerimônia simbólica de posse de Paul Atkins como presidente da Comissão de Valores Mobiliários, no Salão Oval da Casa Branca, na terça-feira, 22 de abril de 2025, em Washington.
Foto: © AP / RFI

Fernando Bizarro, professor de Ciência Política na universidade Boston College, avalia que, com o início de um novo período na Casa Branca, Donald Trump parece ter retornado ao poder com a determinação de concretizar as mudanças que não foram  implementadas em seu mandato anterior.

"Foi um governo que, a partir da derrota de 2020, decidiu voltar ao poder para então efetuar todas aquelas mudanças que ele não tinha sido capaz de fazer no período anterior, custasse o que custasse", avalia Fernando Bizzarro. "Esses primeiros 100 dias foram provavelmente os mais ativos de uma presidência desde a de Franklin Roosevelt, eleito para implementar o New Deal, que completamente transformou a política norte-americana e o estado norte-americano", comenta.

Revanche

Para Fernando Bizzarro, uma característica proeminente do governo é seu caráter "muito revanchista" em todas as medidas. "O Trump é revanchista, ele está indo atrás de todo mundo que em algum momento lhe causou problema. Ele foi atrás dos advogados que foram contra ele nos casos judiciais, foi atrás dos procuradores, de todo mundo que em algum momento foi contra ele. Está indo para a revanche, mas isso são as revanches pessoais do presidente", detalha.

"Do ponto de vista da coalizão política, tem essa revanche com esse modelo de estado norte-americano construído durante o século 20. E essa vingança é então uma resposta dos grupos perdedores dos últimos 100 anos contra o modelo construído antes deles", contextualiza Bizzarro.

O fim do soft power norte-americano?

A avaliação de Lucas de Souza Martins, professor de História dos Estados Unidos na Temple University, na Filadélfia, vai na mesma direção. "Ao iniciar seu segundo mandato, Trump altera profundamente o que até então representava os Estados Unidos: um país com força econômica natural, mas também comprometido com o soft power, ou seja, com a projeção de sua influência por meio de projetos sociais, humanitários, investimentos em educação e fomento à pesquisa científica", pontua.

"O embate atual de Trump com as principais universidades norte-americanas, como as da Ivy League, e a reação de Harvard exemplificam isso. Tudo indica que a nova gestão de Donald Trump, muito mais do que conservadora, é 'revolucionária' no sentido de implementar uma agenda política alinhada diretamente com os interesses do atual chefe de Estado na Casa Branca", afirma.

Inflação

Martins lembra que, no cenário doméstico, algumas consequências já são sentidas. "O que se observa já de imediato é que o cidadão norte-americano, o norte-americano médio, já passa a enfrentar com ainda mais gravidade a questão da inflação, que é algo que historicamente ele jamais enfrentou como enfrenta neste momento, neste fim de gestão Biden e agora gestão Trump", explica.

"Outro ponto também que vai além da questão interna é também a força norte-americana no sentido das relações internacionais. Hoje, por exemplo, o cerceamento do comércio multilateral promovido pela nova gestão de Trump, faz com que outras potências possam se abrir e se articular internamente sem a participação dos norte-americanos", afirma.

Corda para Trump "se enforcar"

Fernando Bizzarro explica qual seria o papel da China no meio da tempestade Trump. "O governo chinês percebeu essa oportunidade criada por essa mudança drástica de política externa norte-americana como uma oportunidade para desmantelar de fato aquilo que os Estados Unidos tinham construído durante o século 20, que do ponto de vista da política internacional era um sistema de organizações internacionais e um sistema de alianças também centrado nos Estados Unidos", diz.

"Então eu não acho que eles vão tentar mediar [a situação], eles vão tentar, na verdade, empurrar o Trump para perseguir os seus piores instintos", situa o cientista.

"E, na medida em que ele tentar desmontar o sistema internacional que tem os Estados Unidos como eixo principal, isso vai ser vantajoso para a China também, porque então você vai passar a viver num mundo em que não se vive sob instituições dominadas pelos norte-americanos. Acho que a China vai tentar dar mais corda para ele se enforcar", destacou.

Que oportunidades para o Brasil?

Os pesquisadores acreditam que o Brasil pode cavar uma oportunidade no meio da crise. "Veja, para o Brasil, este é um momento de perigo, mas também de oportunidade. Por um lado, à medida que a economia norte-americana busca se desvincular da economia chinesa — algo que o governo Trump está tentando fazer, ao afastar a produção e a manufatura dos produtos consumidos nos Estados Unidos da dependência chinesa — há uma tendência de desconexão dos Estados Unidos em relação à economia globalizada. Em certa medida, isso pode ser favorável ao Brasil", diz Fernando Bizzarro.

"Há uma oportunidade econômica para o Brasil de forma geral. Além disso, essa mudança no cenário internacional, com o enfraquecimento das instituições da ordem liberal estabelecida após a Segunda Guerra Mundial — dominada pelos Estados Unidos — abre espaço para o desenho de uma nova arquitetura institucional. Isso está em sintonia com um desejo histórico da diplomacia brasileira, que sempre defendeu a reforma dessas instituições e a ampliação da ordem internacional, tornando-a menos centrada nos Estados Unidos e em seus aliados imediatos", acredita.

"Por exemplo, o Conselho de Segurança da ONU, composto pelos vencedores da Segunda Guerra (Estados Unidos, China, Rússia, Reino Unido e França), sempre foi alvo de críticas do governo brasileiro, que buscava reformá-lo e democratizar sua composição", diz o professor. "Assim, em um mundo no qual os Estados Unidos deixem de ser a força unipolar e as estruturas internacionais criadas no pós-1945 sejam reformadas, o Brasil pode encontrar a oportunidade de conquistar alguns dos objetivos que persegue há décadas", analisa.

Brasil na liderança ambiental

"O Brasil surge como um país que tem a oportunidade, especialmente com a proximidade da COP, de se apresentar como o principal defensor das políticas ambientais no cenário internacional", diz Lucas de Souza Martins. "Isso ocorre num contexto em que os norte-americanos já não representam mais essa visão de mundo — eles deixaram de ser uma nação que exerce liderança na promoção e no financiamento de projetos globais nessa área", destaca.

"Diante disso, o Brasil tem a possibilidade de ocupar esse espaço e se tornar a principal voz em questões ambientais nos fóruns multilaterais", contextualiza.

Danos internos permanentes

No entanto, ele alerta para danos permanentes nos Estados Unidos. "A paz discutida pelos Estados Unidos favorece apenas um lado da história", diz. "Isso compromete, portanto, a forma como se interpreta a liderança americana, especialmente quando pensamos em futuros governos que vão muito além de Donald Trump. Eventualmente, poderemos ter um presidente mais centrista ou mais progressista. A questão que fica é: até que ponto essas políticas, como o fechamento de agências federais tradicionais, poderão ser revertidas? E em quanto tempo isso acontecerá?", questiona Martins.

"A pergunta que surge a partir dos primeiros 100 dias do governo Donald Trump é: até que ponto ele causou danos à administração e à liderança norte-americana que serão permanentes e que irão além de seu governo?", conclui o professor da Temple University em entrevista à RFI.

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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