Lula lamenta morte de Mujica: ‘sua vida foi um exemplo’
Presidente do Brasil falou sobre a perda do amigo
O presidente Lula lamentou a morte de Pepe Mujica, exaltando sua trajetória política, caráter humano e legado de luta por democracia e justiça social, ressaltando a amizade e admiração entre os dois líderes.
O presidente Lula (PT) usou seu perfil no Instagram para lamentar a morte de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai. O líder brasileiro exaltou a trajetória do político uruguaio.
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“Amanheci em Pequim com a triste notícia de que Pepe Mujica partiu hoje, nos deixando cheios de tristeza, mas também de muitos aprendizados. Sua vida foi um exemplo de que a luta política e a doçura podem andar juntas. E de que a coragem e a força podem vir acompanhadas da humildade e do desapego”, falou.
"Em seus quase 90 anos de vida, Mujica combateu fervorosamente a ditadura que um dia existiu em seu país. Defendeu, como poucos, a democracia. E nunca deixou de militar pela justiça social e o fim de todas as desigualdades. Sua grandeza humana ultrapassou as fronteiras do Uruguai e de seu mandato presidencial. A sabedoria de suas palavras formou um verdadeiro canto de unidade e fraternidade para a América Latina. E sua forma de compreender e explicar os desafios do mundo atual continuará guiando os movimentos sociais e políticos que buscam construir uma sociedade mais igualitária. Que o amor que Mujica sempre distribuiu ao povo seja agora recebido de volta pela querida Lucía Topolsky e pelos seus familiares, amigos e companheiros. E que o conforto chegue logo aos seus corações", completou.
José "Pepe" Mujica, ex-presidente do Uruguai, morreu nesta terça-feira, 13, aos 89 anos. Ele governou o país entre 2010 e 2015. Após deixar a presidência, voltou ao Senado, ficando no cargo até 2020, quando renunciou por motivos de saúde.
O atual presidente do Brasil sempre demonstrou admiração e alinhamento ideológico com o amigo uruguaio. Foram muitos encontros em tom fraterno, inclusive quando Lula esteve preso na Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, e recebeu a visita do ex-presidente uruguaio, em junho de 2018.
O primeiro contato aconteceu em 2005, após o petista ficar maravilhado com o discurso combativo de Pepe. A relação ganhou contornos de amizade em 2010, quando ambos chefiavam o Executivo de seus países. Eles estiveram juntos no final das eleições federais do Brasil, em 2022, e no momento da apuração dos votos, que culminou na vitória de Lula contra Jair Bolsonaro (PL), o uruguaio declarou que o amigo era um "verdadeiro social-democrata".
De guerrilheiro a 'presidente mais pobre do mundo'
Nascido em 20 de maio de 1935, em Montevidéu, Pepe integrou o Movimento de Liberação Nacional - Tupamaros. O grupo guerrilheiro, fundado por Raúl Sendic, era contra à liderança repressiva do Uruguai, ainda antes da ditadura militar. Atuava com roubos a bancos e empresas, distribuindo o saque entre os mais pobres.
O uruguaio foi preso três vezes ao longo da vida, uma delas por causa do assassinato de um policial. Ele fugiu da prisão duas vezes --incluindo a famosa fuga de Punta Carretas--, mas foi recapturado em ambas e cumpriu cerca de 14 anos no total. Em 1972, o ex-presidente levou seis tiros e quase sangrou até a morte na calçada, após revidar uma abordagem policial em uma pizzaria.
Como prisioneiro da ditadura militar que tomou o poder em um golpe em junho de 1973, Mujica foi torturado e passou longos períodos de tempo em confinamento solitário, como contou em seu livro biográfico Mujica, publicado por Miguel Ángel Campodónico em 1999.
O ex-presidente conta ter sido mantido em confinamento solitário, privado de livros, jornais e até mesmo de luz solar por ao menos 7 anos. Ele disse que chegou a comer papel higiênico, sabão e moscas para sobreviver. Mujica foi um dos militantes utilizados como refém pelo regime em troca do desmantelamento das guerrilhas. Em 1985, ele e os outros presos políticos foram libertados sob uma anistia geral.
O Tupamaro se juntou à coalizão de esquerda conhecida como Frente Ampla (FA) e se reorganizou como um partido político legal, o Movimento de Participação Popular (MPP), para as eleições de 1989.
Como uma das principais vozes do MPP, Mujica foi eleito presidente em 2009 em segundo turno contra Luis Alberto Lacalle. Se tornou um dos grandes líderes políticos da América do Sul e sua presidência --que durou de 2010 a 2015-- foi marcada por aprovação de leis pioneiras na América Latina como liberalização do aborto, legalização da maconha e casamento de pessoas do mesmo sexo.
Famoso por dirigir seu fusca azul, ganhou o apelido de “presidente mais pobre do mundo” devido às suas maneiras simples de viver. Um título que rejeitava. Pregava uma vida menos consumista e a Justiça Social, temas que marcaram a sua passagem pela presidência.
Após deixar o cargo, ele se tornou senador, posto que ocupou até 2020, quando se aposentou da vida política.
Em outubro do ano passado, em entrevista ao El País, Mujica falou sobre a morte. “Eu me dediquei a mudar o mundo e não mudei po*** nenhuma, mas estive entretido. E gerei muitos amigos e muitos aliados nessa loucura de mudar o mundo para melhorá-lo. E dei um sentido à minha vida. Vou morrer feliz, não por morrer, mas por deixar uma marca que me supera com vantagem. Nada mais”, declarou.