"Não sabemos onde está o urânio", diz embaixador de Israel, que considera ataque dos EUA ao Irã um sucesso
Após 12 dias de guerra entre Israel e Irã, o embaixador de Israel na França, Joshua Zarka, considera os ataques americanos às instalações nucleares iranianas "uma vitória". Em entrevista à RFI nesta quarta-feira (25) ele afirma que o objetivo israelense de acabar com o programa nuclear do país foi alcançado na ofensiva militar.
Após 12 dias de guerra entre Israel e Irã, o embaixador de Israel na França, Joshua Zarka, considera os ataques americanos às instalações nucleares iranianas "uma vitória". Em entrevista à RFI nesta quarta-feira (25) ele afirma que o objetivo israelense de acabar com o programa nuclear do país foi alcançado na ofensiva militar.
Para Joshua Zarka, como a maioria dos alvos foi atingida, a operação americana foi um sucesso. Segundo sua avaliação, a reação iraniana "foi mais fraca do que o esperado", enquanto "a maior parte do programa nuclear iraniano e o programa balístico foram fortemente atingidos e não representam mais uma ameaça".
O embaixador acredita que, após a ofensiva dos EUA, "os iranianos voltaram à estaca zero" de seu programa nuclear. "Se decidirem recomeçar um programa nuclear militar, isso levaria dez anos, aproximadamente", calcula.
Zarka explica que Tel Aviv mantém discussões aprofundadas com os americanos, mas tem também sua própria avaliação dos resultados. "O que sabemos é que as conquistas são maiores do que imaginávamos, ainda que não tenha sido um sucesso total", afirma, destacando não saber onde foram parar os 408 quilos de urânio enriquecido do Irã.
"Não sou capaz de dizer onde estão, mas claramente eles não estavam em Fordow [instalação nuclear], ou teríamos sentido isso na atmosfera em todo o Oriente Médio, com uma nuvem radioativa, se houvesse explosão. Por isso, acredito que não estavam lá", conclui.
No momento, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) diz ser impossível avaliar os estragos nas instalações nucleares iranianas atingidas pelo bombardeio de domingo (22). "A AIEA diz as coisas claramente quando tem certeza delas, mas somente será capaz de detalhar a situação em Fordow quando puder entrar lá e ver os resultados dos ataques", analisa Zarka.
O embaixador de Israel em Paris cita uma entrevista concedida pelo diretor da AIEA, Rafael Grossi, em que ele teria dito que "mesmo que as bombas não tenham explodido dentro de Fordow, o tremor de terra provocado pelas seis bombas no interior dessas montanhas seria suficiente para destruir todas as centrífugas nucleares".
Levar a sério os objetivos de Israel
Zarka destaca que agora "o Irã e o mundo compreendem que Israel fala sério quando diz que não permitirá que um povo que quer destruí-lo e que desenvolve capacidades para isso possa fazê-lo". Se havia alguma dúvida, não existe mais, ele acredita. "Destruiremos essa capacidade de nos matar", completa.
Ainda de acordo com o diplomata israelense, "o regime dos aiatolás não era um alvo". Porém, Zarka admite que "Israel ficaria contente se o regime tivesse caído", reforçando que esse não era o objetivo da operação. "Cabe ao povo iraniano, que é um povo avançado e inteligente, com uma história de 2.500 anos, decidir quem os governará", diz. "Não é Israel quem vai fazer isso. Esperamos há anos que o regime caia, mas não trabalhamos para isso", reitera.
Situação em Gaza
Na entrevista à RFI, Zarka também falou sobre a situação na Faixa de Gaza, enclave palestino ainda sob ataque israelense. "A população de Gaza e a comunidade internacional devem fazer pressão sobre o Hamas para que aceite as propostas de cessar-fogo feitas pelos Estados Unidos", analisa. "Quem está negociando são o Departamento de Estado americano e o enviado especial do presidente americano, Steave Witkoff, que mais de uma vez propôs um cessar-fogo que nós havíamos aceitado, mas o Hamas recusou", destaca.
O embaixador sugere que "a França, a Europa e o mundo façam pressão sobre o Hamas para que o grupo compreenda de maneira clara que cabe a eles, agora, aceitar o cessar-fogo", continua. "E, se eles libertassem os nossos reféns, a guerra terminaria", completa.
Perguntado sobre a situação da distribuição de ajuda humanitária aos palestinos, Zarka questiona números divulgados pelo Ministério da Saúde do Hamas. Segundo o balanço, desde o fim de maio, 450 pessoas morreram e 3.600 ficaram feridas tentando chegar a pontos de distribuição de comida.
"Sabemos que o Hamas atira sobre os palestinos que tentam chegar à distribuição de ajuda e impede que recebam essa comida. Porém, de maneira falsa, acusam Israel", afirma, dizendo que o país abriu quatro locais de distribuição de comida e utiliza instituições em que confia. "Sabemos que o Hamas vende a ajuda humanitária", finaliza.