Ator de A Viagem morreu após contrair Covid-19 em hospital onde tratava hipertensão
No ar na Globo com a reprise de A Viagem, ator morreu em 2020, aos 73 anos, após sofrer complicações da Covid-19
O ator Gésio Amadeu, que está no ar na Globo como Julião na reprise de A Viagem (1994) transmitida no Vale a Pena Ver de Novo, morreu em 2020, aos 73 anos, após contrair Covid-19 em hospital onde tratava hipertensão. O intérprete mantinha uma carreira ativa na televisão, onde realizou o último trabalho em 2019.
Carreira inspiradora
Natural de Conceição do Formoso, distrito de Santos Dumont, localizado em Minas Gerais, Gésio teve origem modesta e começou sua trajetória artística cantando em coral de igreja aos seis anos. A infância foi marcada por mudanças e dificuldades: aos oito anos, foi morar com uma família de imigrantes libaneses e, já adolescente, encarou o serviço militar.
Foi só ao se mudar para São Paulo que sua vida começou a ganhar contornos de palco e bastidores. Lá conheceu Bráulio Pedroso (1931-1990), nome central da revolução da teledramaturgia nos anos 1970, que o apresentou ao universo da TV, mais precisamente à TV Tupi.
Seu rosto logo passou a figurar nas principais novelas da emissora, como Éramos Seis, O Direito de Nascer e Gaivotas. Com paixão pelo ofício, Gésio transitou por quase todas as grandes redes do país — TV Bandeirantes, TV Cultura, Manchete, SBT e, claro, Globo.
Atuou também no teatro, com destaque para Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006). Ao longo da carreira, colecionou mais de 50 trabalhos em TV, cinema e publicidade, sem nunca perder o olhar generoso e a consciência social que sempre marcaram sua atuação pública.
A vida nos bastidores
Além de ser lembrado por seus personagens carismáticos, como Chico de Chiquititas ou Tio Barnabé no Sítio do Picapau Amarelo, Gésio Amadeu enfrentou os bastidores difíceis da televisão brasileira — onde o racismo estrutural e a escassez de papéis para atores negros sempre foram a regra. Ainda assim, com persistência, conseguiu se manter relevante por cinco décadas. Sua carreira é também a história de um artista que se moldou em meio aos limites impostos pela indústria, sem deixar de abrir caminhos para os que viriam depois.
Nos bastidores, era conhecido por seu comprometimento com os colegas e por valorizar a educação e a formação artística. Gésio indicou o amigo João Acaiabe (1944-2021) para substituí-lo como Chico na nova versão de Chiquititas, mostrando que sua trajetória ia além do ego e buscava perpetuar um ciclo de oportunidades entre artistas negros.
Despedida
A morte de Gésio Amadeu foi uma das muitas perdas que a Covid-19 provocou na cultura brasileira. O ator faleceu aos 73 anos em São Paulo, vítima da Covid-19, vírus contraído durante sua internação para tratar um quadro de hipertensão — condição que já exigia atenção médica constante.
A morte foi sentida em toda a classe artística, não só pela perda de um talento veterano, mas por tudo o que Gésio representava: um artista negro que construiu sua carreira em meio a um cenário majoritariamente branco e excludente.
Apesar da idade, Gésio ainda mantinha sua presença ativa na televisão. Seu último trabalho em vida foi em 2019, na série infantojuvenil Bugados, e ele ainda apareceu postumamente na produção Sala dos Professores, em 2023.