Comunidade na periferia do Recife planta horta com técnica de 5 mil anos
Estratégia inventada pelos nativos americanos consiste em cultivar três plantas que, juntas, aumentam produtividade
Horta no Ibura, periferia de Recife, é referência em agroecologia e segurança alimentar. Em mutirão plantaram, conjugados, milho, feijão e jerimum. Antes tinham cultivado uma farmácia viva e um pomar.
O mutirão de plantio na Horta Comunitária Mãos de Milagres, no bairro do Ibura, periferia do Recife, utilizou uma técnica de plantio que, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), tem aproximadamente cinco mil anos. Chama-se Milpa.
“O milho forma uma haste que serve de suporte ao feijão de corda, enquanto o jerimum atua como cobertura do solo. Essa interação evita o crescimento de ervas daninhas e outras plantas indesejadas, além de reduzir parasitas”, explica Nathália Mesquita, técnica em agroecologia da Secretaria Executiva de Agricultura Urbana do Recife.
Feijões também fornecem nitrogênio ao solo, que nutre o milho. As sementes distribuídas e plantadas na Horta Comunitária Mãos de Milagres são de milho crioulo. Geralmente cultivado por gerações de pequenos agricultores, não foi apropriado pela indústria. Seu valor nutricional é maior do que o do tradicional milho verde.
Uma horta cultivada por mulheres
“Somos um coletivo de mais de vinte mulheres. Quem cuida da horta somos nós”, explica Josélia Firmino, 45 anos, moradora da comunidade do Ibura há 35 anos. Elas cultivam plantas medicinais, utilizadas como remédios, além de hortaliças.
“Nossa produção é voltada para beneficiar a própria comunidade. Como não tínhamos espaço, o posto de saúde cedeu essa área para plantar”. O plantio de milho, feijão e jerimum juntou crianças, jovens, adultos e idosos.
Nascida e criada na comunidade dos Milagres, outra periferia de Recife, Rafaela Souza, 32 anos, foi se envolvendo no projeto aos poucos. “Comecei a participar, fui gostando e pronto: até hoje estou por aqui", conta, empolgada com a colheita. “Estou doida para colher esses milhos.”
Esse é o terceiro mutirão. O primeiro plantou uma farmácia viva, seguida da criação de um pomar. Agora, a comunidade celebra o primeiro roçado, que será colhido durante as festas juninas.