O que leva uma adolescente querer se vingar de outra, como o caso do bolo envenenado?
Psicóloga analisa comportamento de jovem que matou amiga por ciúmes
Mais um caso de envenenamento de bolo chocou o país essa semana. Dessa vez, uma adolescente envenenou e matou uma amiga ao enviar um bolo de pote, sem se identificar, para Ana Luiza de Oliveira Neves, de 17 anos, que passou mal em sua casa, em Itapecerica da Serra (SP), foi levada para o hospital duas vezes, mas não resistiu.
A vítima recebeu o doce no último sábado, 31, entregue por um motoboy e com um bilhete anônimo, com o seguinte recado: "Um mimo pra garota mais linda que eu já vi”.
Além de Ana Luiza, outra vítima também foi envenenada pela garota da mesma forma, alguns dias antes desse caso. Ela também passou mal, mas se recuperou dos sintomas.
A psicóloga Tatiana Serra comentou o caso após a adolescente que enviou o bolo admitir que sentia ciúmes da vítima. "Esse sentimento, aliado à impulsividade, imaturidade emocional, necessidade de controle e de afirmação, pode ter contribuído para sua atitude", diz.
"Embora muitas pessoas tendam a atribuir comportamentos assim a algum transtorno psicológico, nem sempre essa é a explicação. Em muitos casos, pode se tratar das consequências de um ambiente familiar disfuncional, da ausência de habilidades socioemocionais, da influência negativa das redes sociais ou de amizades tóxicas, além da falta de limites e de consequências diante de comportamentos anteriores", avalia a especialista.
Caso se considere a hipótese de um transtorno, como a psicopatia, a psicóloga diz que é fundamental analisar a presença de traços antissociais ou indícios de transtornos de personalidade. "Especialmente se esses padrões forem persistentes, friamente calculados e desvinculados de empatia".
É comum os adolescentes terem o desejo de vingança?
Segundo a especialista, a adolescência é uma fase marcada por impulsividade, desregulação emocional, rivalidades, dificuldade em lidar com a rejeição e uma intensa busca por reconhecimento. "Apesar disso, na maioria dos casos, adolescentes que sentem raiva ou desejo de revanche não chegam a agir de forma grave. No entanto, quando há indícios de comportamento planejado, ausência de empatia ou repetição de atitudes prejudiciais, torna-se essencial uma avaliação psiquiátrica para investigar possíveis transtornos de personalidade ou outros fatores clínicos", diz.
A ausência de limites e filtros, incluindo o uso de celular e acessos às redes sociais, já é algo característico da adolescência. "Quando somada a longas horas de exposição à internet, consumindo conteúdos para os quais ainda não têm maturidade para discernir, pode se tornar uma combinação grave e perigosa", conclui.
Por isso, é importante os pais monitorarem o que os filhos estão consumindo e limitar esse acesso.