Foguete europeu decola levando satélite inovador para monitorar florestas
O foguete europeu Vega-C decolou com sucesso nas primeiras horas da manhã desta terça-feira (29) do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa. O objetivo da missão é colocar em órbita o inovador satélite Biomass, da Agência Espacial Europeia (ESA), que vai monitorar as florestas tropicais do planeta.
O foguete europeu Vega-C decolou com sucesso nas primeiras horas da manhã desta terça-feira (29) do Centro Espacial de Kourou, na Guiana Francesa. O objetivo da missão é colocar em órbita o inovador satélite Biomass, da Agência Espacial Europeia (ESA), que vai monitorar as florestas tropicais do planeta.
Adriana Brandão, enviada especial da RFI Brasil a Kourou
Eram 6h15 da manhã em Kourou. O sol mal tinha acabado de nascer e o barulho dos motores rompeu o silêncio. Em poucos segundo o foguete Vega-C decolou com sucesso, para alívio dos especialistas e controladores do Centro Espacial de Kourou, ou Porto Espacial Europeu.
Foram meses de trabalho para garantir o sucesso deste momento. O horário de 6h15 da manhã era a única janela de tiro possível nesta terça-feira. Qualquer imprevisto que atrasasse a missão, mesmo em um segundo, adiaria o lançamento.
O Vega-C, de fabricação 100% europeia, levava a bordo o inovador Biomass. Pouco menos de uma hora após o lançamento, o satélite foi colocado, como previsto, em órbita. Salva de palmas no centro de controle.
O jornalista francês Antoine Meunier, editor-chefe do site La Chronique Spatiale, assistiu a seu quinto lançamento. Para ele, "é sempre extraordinário e um privilégio poder assistir a um lançamento, principalmente de uma missão tão importante". Meunier lembra que esse é o segundo lançamento com sucesso do Centro Espacial de Kourou, o primeiro foi um Ariane 6, o maior foguete europeu.
"Uma vantagem estratégica indispensável para a Europa. É o nosso local de acesso ao espaço. É sinal forte de que a atividade de lançamentos está se desenvolvendo em Kourou", salienta o jornalista.
Entender o ciclo do carbono
A missão cientifica Biomass integra o programa de Observação da Terra da Agência Espacial Europeia. O satélite vai monitorar as florestas tropicais do planeta. Ele é equipado com uma antena sincronizada na Banda-P, que é uma frequência de ondas longas, capaz de penetrar as copas das árvores e estudar a composição das florestas até o solo. Essa é a primeira vez que um satélite utiliza essa tecnologia.
"É uma tecnologia inovadora, mas acima de tudo é uma tecnologia que pode nos dar informações muito importantes sobre tudo relacionado à qualidade da floresta em áreas e regiões tropicais. Não apenas a qualidade, mas a saúde das florestas", explica Simonetta Cheli, diretora dos Programas de Observação da Terra da ESA.
Para além da "dimensão", os cientistas terão dados sobre a altura das árvores e o tipo de vegetação que compõe as florestas tropicais. O objetivo é medir o volume de CO₂ estocado nesses biomas em todo o mundo e entender sua evolução. "E é essencial termos parâmetros de informações importantes sobre tudo o que é relacionado ao ciclo do carbono e, portanto, ao clima em geral", indica Simonetta Cheli.
As florestas são consideradas "pulmões verdes da Terra" por sua capacidade de absorver oito trilhões de toneladas de CO₂ por ano. Com o desmatamento e as mudanças climáticas, o carbono estocado é liberado. Quantificar o ciclo global do carbono é essencial para entender melhor seus efeitos sobre o clima e mitigar as mudanças climáticas.
Papel do Brasil
Por ser uma missão voltada para monitorar as florestas em áreas tropicais, o Brasil terá um papel importante.
"Nesta missão do Biomass, o Brasil tem um papel específico no sentido de que temos a instalação de uma infraestrutura técnica em uma área onde teremos uma espécie de antena que validará os dados que chegam do satélite ao solo. Além disso, haverá equipes terrestres que estarão presentes na floresta tropical para validar todos os dados que chegam do satélite ao solo", informa a diretora da ESA.
Essa colaboração entre o Brasil, via a agência Espacial Brasileira (AEB)) e o Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (INPE), começou antes mesmo do lançamento com uma campanha visando validar e preparar a missão.
Missão europeia conjunta
O lançamento foi uma missão conjunta entre l'ESA, Arianespace, o Centro Nacional de Estudo Espacial (CNES, a agência espacial francesa), e o construtor italiano AVIO, fabricante do foguete Vega-C. O custo da operação, incluindo o preço do satélite, é de € 496 milhões.
O Biomass já emitiu os primeiros sinais, mostrando que funciona normalmente. A órbita final, uma órbita polar, sincronizada com o Sol a 666 km da Terra, será atingida em cinco dias quando a antena parabólica do satélite será acionada.
Os dados inéditos sobre a saúde e a evolução das florestas tropicais para entender o papel desses biomas no ciclo do carbono só começarão a ser explorados pela ESA em seis meses. Em seguida, os dados serão colocados à disposição de todo o mundo, gratuitamente.