Testes caseiros não são capazes de detectar adulteração no mel, diferentemente do que diz post
VERIFICAÇÃO DEVE SER FEITA EM LABORATÓRIO, LEVANDO EM CONTA PARÂMETROS FÍSICO-QUÍMICOS; RECOMENDAÇÃO É CONSUMIR PRODUTO COM SELO DE INSPEÇÃO
O que estão compartilhando: que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos teria descoberto que grandes quantidades de mel foram fraudadas e que haveria maneiras de descobrir, com testes caseiros, se um mel é puro ou se foi adulterado.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é enganoso. Embora seja verdade que o mel possa ser adulterado, não há como detectar mel verdadeiro com testes caseiros. Dissolver na água, atear fogo ou secar com papel toalha não mostra se o mel é falso. Para garantir a qualidade, é preciso comprar produtos que tenham passado por inspeções laboratoriais e controle de pureza.
Os responsáveis pela publicação do vídeo foram procurados, mas não responderam até a publicação deste texto.
Saiba mais: Segundo a agência sanitária americana, a Food and Drug Administration (FDA), o mel está entre os produtos que mais são alvo de fraude alimentar, ou seja, adulteração com fins econômicos. É comum que produtores incluam no produto adoçantes mais baratos, como xarope de milho, de arroz, de beterraba e até açúcar de cana, barateando o custo.
Em 2013, uma investigação nos Estados Unidos terminou com duas empresas e cinco pessoas acusadas de importar ilegalmente um mel chinês que continha cloranfenicol, um antibiótico de amplo espectro usado para tratar infecções graves e cuja adição não era autorizada no mel.
Este ano, de acordo com o jornal The Guardian, a Federação Internacional de Associações de Apicultores (Apimondia) decidiu não conceder o tradicional prêmio de melhor mel em seu congresso na Dinamarca por conta dos alertas de fraude generalizada na cadeia global de suprimentos. Segundo a reportagem, alguns testes podem ser facilmente burlados.
Como saber se o mel foi adulterado?
Existem vários selos de inspeção que garantem a qualidade do mel - ou seja, asseguram que ele foi inspecionado e passou por testes de pureza. No Brasil, há o selo do Serviço de Inspeção Federal (S.I.F), mas também há selos estaduais e municipais, além do selo ARTE, dado a pequenos produtores.
Segundo a pesquisadora Fábia de Mello, da Embrapa Meio-Norte, esses selos garantem a rastreabilidade do produto. "Se o lote do mel der problema, se consegue chegar na origem para fazer correções", disse.
Fábia afirma que os testes de inspeção do mel devem ser constantemente aprimorados, porque as falsificações têm ficado mais refinadas. Ela explica que nenhum dos testes caseiros mostrados no vídeo indicam se o mel é verdadeiro ou falso.
"Infelizmente, não é tão fácil assim. Esses testes são crença popular, eles não são confiáveis", apontou.
Aquecer mel no chá não torna produto 'veneno' para consumo humano, diferentemente do que diz vídeo
O que os inspetores analisam num teste de pureza do mel?
As regras para análise e produção de mel estão contidas na Instrução Normativa nº 11, de 20 de outubro de 2000, e na Portaria SDA nº 795, de 10 de maio de 2023, ambas do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
Pelas regras, os inspetores federais, estaduais ou municipais devem fazer análises físico-químicas para avaliar maturidade, pureza e o estado de deterioração do mel e seus derivados.
Há tolerâncias diferentes para o mel floral, produzido a partir do néctar das flores, e o mel de melato, em que as abelhas consomem, em vez do néctar, um líquido produzido por insetos que sugam a seiva de árvores.
No teste de maturidade, a equipe analisa os açúcares redutores. O mel floral tem que ter um mínimo de 65g de açúcares para cada 100g do produto, enquanto o mel de melato e sua mistura com mel floral precisam de uma proporção mínima de 60g/100g.
A umidade não pode ser maior do que 20g para cada 100g do produto, e esse teste tem que ser feito obrigatoriamente no estabelecimento do produtor.
Também há um teste de sacarose aparente, que precisa ser de, no máximo, 6g para cada 100g de mel, e de 15g para cada 100g de melato ou da mistura de mel de melato com mel floral.
Na análise de impureza, são observados os sólidos insolúveis em água, que devem ser no máximo 0,1g/100g ou 0,5g/100g, no caso do mel prensado, para venda direta ao público. Também são verificados os minerais, que são aceitos no máximo 0,6g para cada 100g de mel ou 1,2g para cada 100g de melato ou mistura de melato com mel floral.
Já no teste de deterioração, são analisadas a acidez e a atividade diastásica - capacidade da enzima diastase de quebrar o amido em açúcares mais simples.
