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Cracolândia vê usuários 'sumirem' em rua do centro de SP: 'Não removemos ninguém à força'

Prefeitura destaca ações de segurança, saúde e assistência social e afirma que novas concentrações ainda não foram identificadas

13 mai 2025 - 17h10
(atualizado às 20h30)
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A Rua dos Protestantes, via no centro de São Paulo que abrigava o fluxo da Cracolândia, como é chamada a aglomeração de usuários de drogas em cenas abertas de uso, amanheceu esvaziada no começo desta semana.

Havia apenas duas viaturas da Guarda Civil Metropolitana (GCM), uma em cada extremidade do quarteirão onde ficavam os dependentes químicos, quando o Estadão esteve no local, por volta das 16h desta terça-feira, 13.

"Vamos continuar fazendo patrulha aqui", disse uma guarda, que preferiu não se identificar. Ao lado dela, outros três agentes encaravam o vazio da rua, ainda com a água secando no chão por conta de uma limpeza recente.

Rua dos Protestantes, próximo à Rua Vitória, na região central de São Paulo, estava sem usuários de drogas, nesta terça-feira, 13.
Rua dos Protestantes, próximo à Rua Vitória, na região central de São Paulo, estava sem usuários de drogas, nesta terça-feira, 13.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão / Estadão

Chegou a haver engarrafamento de curiosos para olhar o espaço onde os usuários ficavam, rente a um muro de concreto construído pela Prefeitura. Um motorista que passou por ali no sentido da Estação da Luz perto até gritou: "Cadê os usuários que estavam aí?". Ninguém parecia saber responder.

Até a semana passada, moradores estimam que cerca de 200 dependentes químicos se amontoavam na Rua dos Protestantes, quase no encontro com a Rua General Couto de Magalhães. O fluxo se estabeleceu por ali no fim de 2023, com mudanças pontuais para outros endereços, como no trecho da Rua Mauá rente à Estação da Luz.

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) mostrou surpresa com o esvaziamento repentino do local, mas destacou as ações que vinham sendo adotadas nos últimos meses.

"(A queda de usuários) Surpreendeu. Verdadeiramente surpreendeu. Obviamente já vinha reduzindo gradativamente todos os dias a quantidade de pessoas. Mas vamos continuar monitorando", afirmou o prefeito após visita nesta terça às instalações do aterro sanitário Central de Tratamento de Resíduos Leste (CTL), em São Mateus, na zona leste.

"O episódio em especial, de sábado (10) para cá, na Rua dos Protestantes (esvaziamento), nós ainda estamos tentando entender. Não dá para dizer que está resolvido. Podemos associar algumas questões a essa situação", acrescentou.

Apesar de o prefeito ter afirmado que foi pego de surpresa com o esvaziamento da Rua dos Protestantes, o vice-prefeito Mello Araújo (PL) afirmou ao Estadão que duas ações retiraram mais de 120 usuários do local: 80 na segunda-feira, e 42 nesta terça.

De acordo com o vice-prefeito de São Paulo, a operação que removeu os usuários contou com o apoio da Guarda Municipal e do Batalhão de Choque da Polícia Militar, inclusive com cães farejadores. Usuários foram levados para unidades de tratamento do município, enquanto outros preferiram buscar suas famílias. "Eles saem voluntariamente porque sabem que vão para lugares em melhores condições", explicou.

Usuários de drogas 'sumiram' da Rua dos Protestantes, que até então abrigava o fluxo de usuários de drogas da Cracolândia, na região central de São Paulo.
Usuários de drogas 'sumiram' da Rua dos Protestantes, que até então abrigava o fluxo de usuários de drogas da Cracolândia, na região central de São Paulo.
Foto: Daniel Teixeira/Estadão / Estadão

Entre os fatores que contribuíram para o esvaziamento da Cracolândia, na visão do prefeito, estão as ações do governo do Estado e da Prefeitura para enfraquecer o tráfico de drogas na Favela do Moinho, comunidade próxima dali que a gestão estadual quer transformar em parque.

Os agentes que acompanham o dia a dia da região também relatam o esvaziamento nos últimos dias. "O número já vinha diminuindo bastante. Ficam os grupos pequenos, de 15 a 30 pessoas, mas nenhum grupo grupo de 100, 200 pessoas", afirma um integrante da GCM.

Comerciantes também perceberam o esvaziamento no fim de semana. "Cheguei para trabalhar (no sábado) e até me assustei. Até brinquei com um vizinho: 'estão de folga?'", diz o lojista Antônio Francisco da Costa, de 73 anos.

Alguns frequentadores e comerciantes levantaram a hipótese de ser uma ordem do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que comanda o tráfico por ali, mas por enquanto não há confirmação oficial disso.

Por ora, os sentimentos de quem trabalha e mora na região são divididos. "A princípio, a gente acha que vai melhorar, mas tem que ver se eles realmente não vão voltar", afirma a lojista Edna Pereira, de 54 anos.

Entidades e ONGs que atuam na região apontam que a política de dispersão dos usuários de drogas se tornou mais violenta nos últimos meses.

"A partir do momento que sufocaram as estratégias de sobrevivência e aumentaram o nível de violência, eles (poder municipal) conseguiram fazer com que as pessoas deixassem a região", afirma Giordano Magri, pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole. "A questão agora é onde esse espalhamento vai reverberar", complementa.

Havia apenas duas viaturas da Guarda Civil Metropolitana, uma em cada extremidade do quarteirão onde ficavam os dependentes químicos.
Havia apenas duas viaturas da Guarda Civil Metropolitana, uma em cada extremidade do quarteirão onde ficavam os dependentes químicos.
Foto: Daniel Teixeira/Estadao / Estadão

Todas as experiências internacionais apontam que o cuidado deve ser uma preocupação central na relação com pessoas com uso problemático de substâncias químicas, diz o especialista.

"O cuidado integral fica comprometido e também a possibilidade de encontrar um agente de saúde ou receber um tratamento médico, por exemplo", afirma.

'Não removemos ninguém à força'

Orlando Morando, secretário de Segurança Urbana de São Paulo, nega o uso de violência. "Não removemos ninguém à força. Não fizemos nenhuma abordagem violenta, não há nenhuma imagem ou denúncia contra a GCM", diz ao Estadão.

O secretário detalha as medidas que foram adotadas nos últimos dias na região. "Não estamos mais permitindo a entrada com cachimbos, intensificamos as buscas por drogas com cães da GCM e conseguimos sufocar o tráfico na favela do Moinho. A chegada da droga na rua dos Protestantes está mais difícil", diz.

Em grupos de WhatsApp, comerciantes da região têm manifestado receio quanto a um espalhamento do fluxo para regiões ainda mais movimentadas, como a Rua Santa Ifigênia, a poucas quadras dali, ou para a Rua José Paulino, no Bom Retiro.

"Os políticos vão bater no peito e dizer que acabaram com a Cracolândia. Mas agora sim nossa vida volta a ser um inferno", diz uma moradora, em mensagem publicada em um grupo que reúne lojistas. Outro apresentou receio quanto a novos saques de estabelecimentos devido ao espalhamento dos usuários.

Morando afirma que o problema não está solucionado, mas que as forças de segurança ainda não identificaram novos pontos de aglomeração. "Não teremos novas Cracolândias", promete.

O Estadão acompanhou a movimentação em diferentes vias da região de Santa Ifigênia na tarde desta terça. A única em que havia uma quantidade mais elevada de usuários - cerca de 20 em movimentação - era a Rua General Osório, quase no encontro com a Rua do Triunfo.

Enquanto a reportagem percorreu a região alguns pequenos grupos de usuários direcionavam-se à Rua dos Protestantes. Vendo a rua completamente vazia, iam embora sem entender. Equipes de atendimento social da Prefeitura de São Paulo também foram vistas na região.

O que diz a Secretaria da Segurança Pública

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do Estado (SSP) afirmou que o centro de São Paulo, em especial as cenas abertas de uso, "é prioridade da gestão, que tem atuado de forma multisecretarial, em conjunto com a Prefeitura, para combater a criminalidade, principalmente o tráfico de drogas, requalificar vias, e oferecer apoio e uma saída viável aos dependentes químicos".

"A Polícia Civil realiza investigações constantes que têm resultado na apreensão de entorpecentes e na identificação de integrantes de organizações criminosas. Já a Polícia Militar mantém o policiamento ostensivo com reforço de efetivo e emprego de equipes especializadas, atuando em pontos estratégicos", afirma.

A secretaria afirma ainda que um conjunto de ações permitiu "a diminuição crescente do número de dependentes químicos na região e a requalificação de vias que antes eram tomadas pelo fluxo".

Conforme a pasta, no primeiro trimestre deste ano, as forças de segurança apreenderam 600 quilos de entorpecentes na região central. "Mais de 30 mil atendimentos já foram realizados no Hub de Cuidados desde 2023. Novos serviços foram implantados por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social e mais de 695 leitos instalados para atendimento exclusivo de pacientes atendidos no Hub", diz. / COLABOROU MONICA GUGLIANO

Estadão
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