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Pesquisa inédita apura barreiras enfrentadas por pessoas com deficiência nas salas de cinema

Estudo da consultoria Acessara recebe informações até setembro; Amanda Lyra e Alessa Paiva, empresárias e mulheres com deficiência, falam com exclusividade ao blog Vencer Limites sobre o cenário atual da acessibilidade no setor, as resistências mesmo diante das leis em vigor e a reais possibilidades para oferta de recursos acessíveis.

2 jul 2025 - 19h16
(atualizado às 19h22)
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Um estudo inédito lançado nesta quarta-feira, 2, identifica as barreiras que a população com deficiência enfrenta nas salas de cinema do Brasil. A 'Pesquisa Nacional de Acessibilidade nos Cinemas' marca a estreia da consultoria Acessara, fundada pelas empresárias Amanda Lyra e Alessa Paiva, ambas pessoas com deficiência, e que tem equipe majoritariamente composta por mulheres, gente com deficiência, negra, LGBTQIAPN+ e neurodivergente.

O evento de lançamento no Cinesystem do Shopping Frei Caneca, em São Paulo, teve sessão dos filmes 'Como Treinar Seu Dragão' (live-action) e 'F1® O Filme', com tradução em Libras, audiodescrição e legendas descritivas.

A proposta é levantar dados reais para orientar melhorias estruturais e tecnológicas no setor audiovisual, contribuindo diretamente para a democratização do acesso à cultura.

A plataforma da pesquisa está aberta para participação do público até o dia 21 de setembro. A ação tem parceria de Warner Bros. Pictures, Universal Pictures, Cinesystem, além do apoio de Campanha Legenda Nacional, Maré Dissidente Libras, MovieReading, MLoad, Movimento Web Para Todos, Talento Incluir, Tambor Biz e Vale PcD.

Os resultados devem ser apresentados em 3 de dezembro, Dia Internacional da Pessoa com Deficiência.

blog Vencer Limites - Qual é o cenário atual da acessibilidade nos cinemas? Temos alguma informação confiável sobre esse universo?

Amanda Lyra e Alessa Paiva (Acessara) - No Brasil, a acessibilidade para pessoas com deficiência é garantida pela Lei Brasileira de Inclusão (Lei nº 13.146/2015). Porém, na prática, ainda há muitos desafios para a inclusão plena desse público na indústria cinematográfica. A IN nº 165/2022 da Ancine estabeleceu diretrizes importantes para garantir acessibilidade visual e auditiva nos segmentos de distribuição e exibição, com o objetivo de universalizar o acesso à cultura e ao lazer. Atualmente, os principais recursos de acessibilidade são disponibilizados por meio de aplicativos que sincronizam com o áudio do filme e oferecem, em tempo real, audiodescrição, legendas e Libras diretamente no celular do espectador. Apesar dos avanços, ainda há muitas barreiras que comprometem a experiência das pessoas com deficiência, desde os sites de compra de ingressos, atendimento nas salas, estrutura física e comunicação das obras, até a própria qualidade e usabilidade dos aplicativos. As barreiras estruturais, digitais, comunicacionais e atitudinais ainda impedem o acesso pleno. Relatos de pessoas com deficiência nas redes sociais são constantes, como o desabafo do influenciador surdo Gabriel Isaac (@isflocos), que disse: "Ainda estamos aqui... esperando por filmes nacionais legendados no cinema. Estamos em pleno 2025 e a equidade ainda não chegou para todos. Queremos celebrar, mas como comemorar algo que ainda nos exclui? A luta por acessibilidade continua, porque cinema é para todos!" Por isso, é urgente aprofundar a discussão e entender melhor essas barreiras. A Pesquisa Nacional de Acessibilidade nos Cinemas nasce com esse propósito: mapear os principais entraves, do atendimento à experiência digital e gerar dados que ajudem a construir normativas mais assertivas e promover a conscientização de que acessibilidade não é um diferencial, mas um direito básico para a inclusão cultural e social.

blog Vencer Limites - A Lei Brasileira de Inclusão impõe a oferta de recursos, mas os prazos de implementação têm sido esticados e o argumento dos donos dos cinemas é a dificuldade de garantir as tecnologias assistivas. Diante das possibilidades atuais, é factível a resistência a essa acessibilidade?

Amanda Lyra e Alessa Paiva (Acessara) - É fundamental entender que muitos espaços são acessáveis, mas ainda não são verdadeiramente acessíveis. Acessibilidade real envolve três pilares: segurança, autonomia e conforto. Se uma pessoa com deficiência não consegue usufruir de um ambiente com facilidade e dignidade, então o espaço não é acessível de fato. Além disso, a Lei Brasileira de Inclusão trata a discriminação da pessoa com deficiência como crime. Se todos conseguem acessar aos filmes com facilidade, exceto as pessoas com deficiência, mesmo existindo tecnologias disponíveis, não se trata apenas de um desafio técnico, mas de uma falha estrutural e discriminatória. Outro ponto crítico é o chamado ciclo da exclusão: a baixa presença de pessoas com deficiência nas salas de cinema é usada como justificativa para não investir em acessibilidade. Mas elas não frequentam justamente porque não se sentem incluídas. Romper esse ciclo exige iniciativas concretas e empáticas. O ideal é que a acessibilidade seja pensada de ponta a ponta na cadeia cinematográfica: desde a inserção de profissionais com deficiência na produção, a representatividade de atores com deficiência em papéis relevantes, a acessibilidade digital nos sites de compra de ingressos, trailers e divulgações, até um atendimento inclusivo em português e Libras, sinalização tátil e espaços adequados para receber pessoas com cadeiras de rodas e seus acompanhantes. Também é importante garantir recursos otimizados aplicados na própria tela, como legenda e Libras, para proporcionar uma experiência completa e acessível. Acessibilidade não deve ser tratada como exceção, e sim como um padrão essencial para garantir o direito de acesso à cultura de forma digna, segura e plural.

blog Vencer Limites - O custo da acessibilidade nos cinemas é impraticável para os responsáveis ou temos possibilidades viáveis nas mãos?

Amanda Lyra e Alessa Paiva (Acessara) - É complexo buscar soluções eficazes sem antes avaliar o cenário completo. Por isso, a Pesquisa Nacional de Acessibilidade nos Cinemas tem como objetivo mapear todas as barreiras enfrentadas, desde a divulgação e compra de ingressos, passando pelo trajeto até o cinema e o atendimento, até o momento mais esperado: assistir ao filme com conforto, autonomia e segurança. A acessibilização dos espaços físicos e digitais permite o acesso de um público diverso, e isso pode gerar impacto significativo para a indústria cinematográfica, afinal, são mais de 14 milhões de pessoas com deficiência no Brasil, além de familiares, amigos e redes de apoio que também devem ser considerados nesse potencial de público. Estamos em outro momento tecnológico. Hoje, o que pode sair mais caro não é implementar acessibilidade, mas não compreender as reais necessidades do público e, com isso, investir de forma ineficiente. Uma analogia que ajuda a ilustrar essa ideia é o antigo "folheto em braille": por muito tempo, a impressão de materiais em braille foi vista como a única forma de inclusão para pessoas com deficiência visual e seu custo chegava a ser até 15 vezes maior que uma impressão convencional. No entanto, atualmente, o celular se tornou uma das tecnologias assistivas mais democráticas, oferecendo acesso à informação, comunicação e entretenimento diretamente na palma da mão. Isso mostra como a tecnologia pode tornar a acessibilidade mais viável e escalável do que se imaginava no passado. É fundamental compreender os ganhos da acessibilidade de forma estratégica: além de promover a inclusão, ela amplia o alcance das marcas, melhora a experiência do cliente, fortalece a reputação institucional, favorece a fidelização e contribui para a conformidade legal, evitando penalizações. A acessibilidade gera impacto social e econômico e precisa ser compreendida como um investimento essencial, não como custo extra.

Estadão
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