Diego Martins critica onda conservadora em novelas: 'Queria uma evolução'
Ator interpretou um personagem gay em 'Terra e Paixão', que foi ao ar entre 2023 e 2024
O último capítulo de uma novela quase sempre tem o casamento de um casal querido pelo público. Em Terra e Paixão, exibida no horário nobre da Globo, aconteceu algo inimaginável há alguns anos: o casamento entre dois homens. Kelvin (Diego Martins) se casou com Ramiro (Amaury Lorenzo). Em entrevista ao Terra, Diego comemora esse feito, mas analisa que a TV entrou em uma onda conservadora após isso.
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
"Demorou para ter o beijo, mas depois que teve a gente conseguiu colocar beijo em tudo quanto é lugar. A gente fazia questão que fosse beijo de língua, queríamos que o Brasil inteiro visse a língua desses dois homens que se amam. A gente tinha esse espaço, teve esse casamento e, após essa novela, não vi acontecer de novo. Bate uma tristeza porque queria que as pessoas tivessem vendo evolução, as coisas indo para frente. Parece que a gente tem uma coisa de dar dois passos e voltar dez", diz o artista.
Por conta disso, Diego reconhece uma onda conservadora nas novelas. "Na época da minha novela estava acontecendo. A novela teve 221 ou 222 capítulos, a gente foi beijar no cento e alguma coisa. Ao mesmo tempo que isso estava acontecendo, os personagens principais, Cauã e a Bárbara, que eram um casal, já tinham transado mil vezes."
O ator cita a novela América, de 2005, que assistia quando era criança e lembra que havia uma grande expectativa pela cena de um beijo entre os personagens de Bruno Gagliasso e Erom Cordeiro, que nunca aconteceu. Por isso, ele fala que os personagens LGBTQIAPN+ sempre tiveram pouca visibilidade a ainda hoje não são tratados como os outros casais.
Além do conservadorismo nas tramas, Diego Martins também diz que há um grande receio de atores abertamente LGBTs de não conseguirem trabalhos por conta da orientação sexual. "Principalmente nos anos 2000, a gente não via homens assumidamente LGBTs fazendo o papel do cara que vai casar com a mocinha, justamente porque é gay. Qual é o problema? Um homem gay não pode representar um homem hétero, mas um homem hétero pode representar um homem gay? Isso foi feito por muito tempo, e essas representações foram muito superficiais."
"Sou um homem gay que ama representar homens gays, inclusive para poder continuar falando sobre a pauta e continuar mostrando nuances de homens gays diferentes, mas não estudei só para fazer homens gays, quero fazer personagens no geral", continua o ator.
Na visão de Diego, é por isso que muitos atores preferem esconder as próprias sexualidades. "As pessoas evitam falar, às vezes são muito reservadas. E elas não são reservadas porque querem, são reservadas porque sabem que vão perder trabalho, não vão ser cogitadas para papéis. Cada um escolhe suas lutas. Eu, desde o início, escolhi passar por isso e sabia que seria isso. Tanto que, após o Kelvin, fiquei esperando que pudesse ter alguma novela para um papel diferente e não veio. Vieram outros trabalhos muito legais que gosto de fazer, mas o meu trabalho em si, que é ser ator para fazer uma próxima novela, não veio. Ainda não fechei nenhum trabalho e fiz uma novela grande, fiz muito bem aquele papel", conclui Diego Martins.