'No calor, reagi mal', diz Bobadilla após ser denunciado por xenofobia
Jogador do São Paulo afirma ter sido ofendido antes, mas pediu desculpas a venezuelano Miguel Navarro; torcida cobra posicionamento do clube
Damían Bobadilla, jogador do São Paulo, foi denunciado por xenofobia contra Miguel Navarro, do Talleres, após partida pela Libertadores; o atleta pediu desculpas, mas caso segue em investigação, e torcida cobra posicionamento do clube.
O meio-campista Damián Bobadilla, do São Paulo, disse que "reagiu mal" no calor da discussão que terminou com uma denúncia de Miguel Navarro, do Talleres, por xenofobia. O crime é equiparado à injúria racial no Brasil. O atleta se pronunciou em sua conta no Instagram nesta quarta-feira, 28.
A acusação do venezuelano ocorreu após a vitória do Tricolor sobre o clube argentino, pela Libertadores, na noite desta terça-feira, 27, no MorumBis.
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Para Bobadilla, a partida estava "muito acalorada" e havia "um clima tenso". "Depois do nosso segundo gol, tive algumas trocas verbais com um jogador do Talleres e fui ofendido primeiro e também tratado com um pouco de desprezo", relatou.
Ele, no entanto, admite ter exagerado.
"Nunca tive a intenção de discriminar ninguém, mas, no calor, reagi mal. Peço desculpas publicamente. Se eu tiver a oportunidade de falar com ele pessoalmente, vou me desculpar também", afirmou o jogador.
Navarro registrou queixa na Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva (Drade).
Na manhã desta quarta, a Secretaria de Segurança Pública (SSP-SP) informou que o venezuelano de 26 anos relatou ter sido ofendido pelo atleta do São Paulo e que outros jogadores prestaram depoimento, assim como o árbitro da partida.
No entanto, a Polícia Civil disse que Bobadilla ainda não compareceu à delegacia para apresentar sua versão. Especialistas afirmam que, se comprovada ofensa xenofóbica, Bobadilla pode ser preso e pagar multa. O São Paulo também pode sofrer sanções da Justiça Desportiva e da Conmebol.
A reportagem também tenta contato com a assessoria de imprensa do São Paulo para pedir um posicionamento sobre o caso. O espaço segue aberto.
A confusão que culminou com a denúncia de Navarro à polícia aconteceu nos últimos instantes do segundo tempo da partida, válida pela última rodada da fase de grupos da Libertadores. Diversos jogadores do Talleres se reuniram ao redor de Bobadilla, enquanto Navarro, aos prantos, tentou deixar o campo.
Na zona mista, o venezuelano revelou que Bobadilla o havia chamado de "venezuelano morto de fome".
Nas redes sociais, o Talleres publicou uma nota de apoio ao jogador, em que se solidariza "profundamente com Miguel e sua família neste momento. Como instituição, nos manifestamos contra qualquer forma de discriminação. Não há lugar para ódio no futebol", diz parte do comunicado.
O atleta também se manifestou em sua conta no Instagram. "Queria eu ter, em minhas mãos, a solução para a fome que vive meu país. Espero que Deus me dê abundância para poder ajudar. Não creio que possa fazer muito contra a pobreza mental", escreveu Navarro.
"Nunca me envergonharei das minhas raízes. Vou até as últimas consequências contra o ato de xenofobia que vivi hoje no Brasil por parte de Damían Bobadilla. No futebol, não há espaço para discursos de ódio”, concluiu o jogador do Talleres.
Navarro compareceu ao Juizado Especial Criminal do MorumBis para registrar a ocorrência, enquanto policiais militares foram ao vestiário do São Paulo em busca de Bobadilla, mas o jogador já havia deixado o estádio.
Na coletiva pós-jogo, o treinador do São Paulo, Luis Zubeldía, tentou desconversar sobre o assunto e se irritou com um jornalista que o questionou sobre o caso, dizendo que preferia falar sobre a classificação da equipe às oitavas da Copa Libertadores.